terça-feira, 9 de dezembro de 2014

QUANDO A EXPERIÊNCIA É RESPEITADA PELOS CÉUS.

João foi lançado dentro de um caldeirão de óleo fervente; mas o Senhor preservou a vida de Seu fiel servo, da mesma maneira como preservara a dos três hebreus na fornalha ardente. Ao serem pronunciadas as palavras: Assim pereçam todos os que crêem nesse enganador, Jesus Cristo de Nazaré, João declarou: Meu Mestre Se submeteu pacientemente a tudo quanto Satanás e seus anjos puderam inventar para humilhá-Lo e torturá-Lo. Ele deu a vida para salvar o mundo. Considero uma honra o ser-me permitido sofrer por Seu amor. Sou um homem pecador e fraco. Cristo era santo, inocente, incontaminado. Não pecou nem se achou engano em Sua boca.
Estas palavras exerceram sua influência, e João foi retirado do caldeirão pelos mesmos homens que ali o haviam lançado.
De novo a mão da perseguição caiu pesadamente sobre o apóstolo. Por decreto do imperador foi João banido para a ilha de Patmos, condenado "por causa da Palavra de Deus, e pelo testemunho de Jesus Cristo". Apoc. 1:9. Aqui, pensavam seus inimigos, sua influência não mais seria sentida, e ele morreria, afinal, pelas privações e sofrimentos.
Patmos, uma ilha árida e rochosa no mar Egeu, havia sido escolhida pelo governo romano para banimento de criminosos; mas para o servo de Deus sua solitária habitação tornou-se a porta do Céu. Aqui, afastado das cansativas cenas da vida, e dos ativos labores dos primeiros anos, ele teve a companhia de Deus, de Cristo e dos anjos celestiais, e deles recebeu instrução para a igreja por
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todo o tempo futuro. Os eventos que teriam lugar nas cenas finais da história deste mundo foram esboçados perante ele; e ali escreveu as visões recebidas de Deus. Quando sua voz não mais podia testificar dAquele a quem amara e servira, as mensagens que foram dadas nessa costa desolada deviam avançar como uma lâmpada que arde, declarando o seguro propósito do Senhor concernente a cada nação da Terra.
Entre as rochas e recifes de Patmos, João manteve comunhão com seu Criador. Recapitulou sua vida passada, e ao pensamento das bênçãos que havia recebido, a paz encheu-lhe o coração. Ele vivera a vida de um cristão, e pudera dizer com fé: "Sabemos que passamos da morte para a vida." I João 3:14. Não assim o imperador que o banira. Este olharia para trás e encontraria apenas campos de batalha e carnificina, lares desolados, lágrimas de órfãos e viúvas, o fruto de seu ambicioso desejo de proeminência.
Em seu isolado lar, João estava habilitado a estudar mais intimamente do que nunca as manifestações do poder divino como reveladas no livro da natureza e nas Páginas da Inspiração. Era para ele um deleite meditar sobre a obra da criação, e adorar o divino Arquiteto. Em anos anteriores seus olhos tinham-se deleitado na contemplação dos morros cobertos de florestas, dos verdes vales e frutíferas planícies; e nas belezas da natureza sempre se deleitara em considerar a sabedoria e habilidade do Criador. Agora estava circundado por cenas que poderiam parecer a muitos melancólicas e desinteressantes; mas para João representavam outra coisa. Embora o cenário que o rodeava fosse desolado e árido, o céu azul que o
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cobria era tão luminoso e belo como o céu de sua amada Jerusalém. Nas rochas rudes, e ermos, nos mistérios dos abismos, nas glórias do firmamento lia ele importantes lições. Tudo trazia mensagem do poder e glória de Deus.
Em tudo ao seu redor via o apóstolo testemunhas do dilúvio que inundara a Terra porque seus habitantes se aventuraram a transgredir a lei de Deus. As rochas que irromperam da Terra e do grande abismo pelo irromper das águas, traziam-lhe vividamente ao espírito os terrores daquele terrível derramamento da ira de Deus. Na voz de muitas águas - abismo chamando abismo - o profeta ouvia a voz do Criador. O mar, açoitado pela fúria de impiedosos ventos, representava para ele a ira de um Deus ofendido. As poderosas ondas, em sua terrível comoção, mantidas em seus limites por mão invisível, falavam do controle de um poder infinito. E em contraste considerava a fraqueza e futilidade dos mortais que, embora vermes do pó, gloriam-se em sua suposta sabedoria e força, e colocam o coração contra o Governador do Universo, como se Deus fosse igual a eles. As rochas lhe lembravam Cristo, a Rocha de sua fortaleza, em cujo abrigo podia ele refugiar-se sem temor. Do exilado apóstolo sobre o rochedo de Patmos subiam para Deus os mais ardentes anseios de alma, as mais ferventes orações.
A história de João fornece uma vívida ilustração de como Deus pode usar obreiros idosos. Quando João foi exilado para a ilha de Patmos, havia muitos que o
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consideravam como tendo passado do tempo de serviço, um caniço velho e quebrado, pronto para cair a qualquer momento. Mas o Senhor achou próprio usá-lo ainda. Embora banido das cenas de seus primeiros labores, ele não cessou de dar testemunho da verdade. Mesmo em Patmos fez amigos e conversos. Sua mensagem era de alegria, proclamava um Salvador ressurreto, que no Céu intercedia por Seu povo até que pudesse retornar e tomá-lo para Si mesmo. E foi depois de haver João encanecido na obra de seu Senhor que ele recebeu do Céu mais comunicações que durante todos os anos anteriores de sua vida.
A mais terna consideração deve ser dispensada a todos aqueles cujos interesses da vida estiveram ligados com a obra de Deus. Esses obreiros idosos têm permanecido fiéis em meio a tempestades e provas. Podem ter enfermidades, mas possuem ainda talentos que os qualificam para permanecer em seu lugar na causa de Deus. Embora gastos, incapazes de levar os encargos mais pesados que os mais jovens podem e devem levar, seus conselhos são do mais alto valor.
Podem eles ter cometido erros, mas de suas falhas aprenderam a evitar erros e perigos; e não são ainda assim competentes para dar sábios conselhos? Suportaram provas e aflições, e embora tenham perdido parte de seu vigor, o Senhor não os põe de lado. Ele lhes dá especial graça e sabedoria.
Os que serviram seu Mestre quando a obra era difícil, que suportaram a pobreza e permaneceram fiéis quando poucos havia ao lado da verdade, devem ser honrados e
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respeitados. O Senhor deseja que os obreiros mais jovens ganhem sabedoria, fortaleza e maturidade pela associação com esses homens fiéis. Que os homens mais jovens sintam que ter entre eles tais obreiros lhes representa um alto favor. Dêem-lhes um lugar de honra em seus concílios.
Quando os que gastaram sua vida no serviço de Cristo se aproximam do fim de seu ministério terrestre, são impressionados pelo Espírito Santo a referir as experiências que tiveram em relação com a obra de Deus. O relato de Seu maravilhoso trato com Seu povo, de Sua grande bondade em livrá-lo das provas, deveria ser repetido aos recém-vindos à fé. Deus deseja que os velhos e provados obreiros permaneçam em seus lugares, fazendo sua parte para livrar a homens e mulheres de serem varridos pela poderosa corrente do mal, e deseja que conservem a armadura até que lhes ordene depô-la.
Na experiência do apóstolo João sob a perseguição, há para o cristão uma lição de maravilhosa fortaleza e conforto. Deus não impede a trama dos ímpios, mas faz que suas armadilhas contribuam para o bem daqueles que em prova e conflito mantêm sua fé e lealdade. Não raro o obreiro do evangelho efetua sua obra em meio a tempestades de perseguições, oposição atroz e acusações injustas. Em tais ocasiões lembre-se ele de que a experiência por alcançar na fornalha da prova e da aflição paga todas as penas de seu preço. Assim traz Deus Seus filhos próximo de Si, para que lhes possa mostrar Sua fortaleza e a fraqueza deles. Ele os ensina a arrimarem-se nEle. Dessa forma prepara-os para enfrentar as
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emergências, ocupar posições de responsabilidades e realizar o grande propósito para o que lhes foram dadas as faculdades.
Em todas as épocas as testemunhas designadas por Deus se têm exposto às perseguições e ao desprezo por amor à verdade. José foi caluniado e perseguido por haver preservado sua virtude e integridade. Davi, o mensageiro escolhido de Deus, foi caçado como um animal feroz por seus inimigos. Daniel foi lançado na cova dos leões por ser leal ao seu concerto com o Céu. Jó foi destituído de suas posses terrestres e ferido no corpo de tal maneira que o desprezaram os próprios parentes e amigos; contudo manteve sua integridade. Jeremias não pôde ser impedido de falar as palavras que Deus lhe ordenara; e seu testemunho de tal maneira enfureceu o rei e os príncipes que o atiraram num poço asqueroso. Estêvão foi apedrejado por haver pregado a Cristo, e Este crucificado. Paulo foi encarcerado, açoitado, apedrejado e finalmente entregue à morte por ter sido fiel mensageiro de Deus aos gentios. E João foi banido para a ilha de Patmos "por causa da Palavra de Deus, e pelo testemunho de Jesus Cristo". Apoc. 1:9.
Esses exemplos de humana firmeza dão testemunho da fidelidade das promessas de Deus - de Sua permanente presença e mantenedora graça. Testificam do poder da fé para enfrentar os poderes do mundo. É obra de fé repousar em Deus na hora mais escura, sentir, embora dolorosamente provado e sacudido pela tempestade, que nosso Pai está ao leme. Somente os olhos da fé podem ver para além das coisas temporais e apreciar
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com acerto o valor das riquezas eternas.
Jesus não oferece a Seus seguidores a esperança de alcançar glórias e riquezas terrestres, de viver uma vida livre de provações. Ao contrário, chama-os para segui-Lo no caminho da abnegação e ignomínia. Aquele que veio para redimir o mundo sofreu a oposição das arregimentadas forças do mal. Numa impiedosa confederação, homens e anjos maus se aliaram contra o Príncipe da paz. Cada um de Seus atos e palavras revelava divina compaixão, e Sua inconformidade com o mundo provocou a mais acérrima hostilidade.
Assim será com todos os que se dispuserem a viver piamente em Cristo Jesus. A perseguição e o descrédito esperam todos os que se imbuírem do Espírito de Cristo. O caráter da perseguição muda com o tempo, mas o princípio - o espírito que a anima - é o mesmo que tem dado a morte aos escolhidos do Senhor desde os dias de Abel.
Em todos os séculos Satanás tem perseguido o povo de Deus. Tem-no torturado e lhe dado a morte, porém tornaram-se eles conquistadores ao morrer. Deram testemunho do poder de Alguém que é mais forte que Satanás. Podem os ímpios torturar e matar o corpo, mas não podem tocar na vida que está escondida com Cristo em Deus. Podem encerrar homens e mulheres nas prisões, mas não lhes podem encerrar o espírito.
Mediante provas e perseguições, a glória - o caráter - de Deus se revela em Seus escolhidos. Os crentes em Cristo, odiados e perseguidos pelo mundo, são educados e disciplinados na escola de Cristo. Na Terra andam em caminhos estreitos; são purificados na fornalha da aflição. (Isa. 48:10.)
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Seguem a Cristo através de penosos conflitos; suportam a abnegação e passam por amargos desapontamentos; mas deste modo aprendem o que significam a culpa e os ais do pecado, e olham para ele com repulsa. Tendo sido participantes das aflições de Cristo, podem contemplar a glória além da obscuridade, dizendo: "Tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada." Rom. 8:18. - ATOS DOS APÓSTOLOS.

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